quarta-feira, 15 de abril de 2015

O Reino das Sombras

Molome

No profundo no Reino das Sombras, busca-se pela luz que nunca vem, a paz que jamais chega...
Pois no Reino das Sombras, tudo se revela no limiar do crepúsculo.

E, das profundezas abissais a Escuridão uníssona encara a Treva habitante de teu interior, a despeito de tua fuga...
No limiar do crepúsculo a Luz preenche os espaços da filosofia vazia da alma perdida em dúvidas nascidas das certezas falaciosas.

No Reino das Sombras a Luz irrompe. A tudo querendo iluminar, a tudo querendo devorar... Propagando a mentira que afirma ser a luz, a verdade... E o terror se instaura no Reino das Sombras...
Observa-se o passar do Tempo, como algo advindo de um passado longínquo, hermético; dividido entre a Luz e a Escuridão, entre o Agora e o Nunca. À espera do que jamais chegara a ser mais do que um sonho vão e tolo. Assim permanece-se... Assim jaz.

E assim prossegue a luz na sua estéril tentativa de vencer as trevas. Ignorando ser ela -a luz- filha desta mesma escuridão que tão ferrenhamente agora combate.
Com a luz invadindo o Reino das Sombras, mudanças tem início. E vida inconfessa começa a surgir onde antes apenas a esterilidade existia...

Mas mesmo esta luz incipiente é natimorta. Pois nada perdura no Reino das Sombras... A iridescência finda, o brilho esmaece, as convicções esmorecem. Sim... Ao incauto viajante fica o parvo alerta: quando estiver impressionado pela luz, lembre-se que ela partirá, e apenas a escuridão permanecerá. Esta é a real essência do Reino das Sombras.
No Reino das Sombras, as criaturas mais estranhas existem, vivendo no tênue limiar entre a Luz e Escuridão. Sem jamais conseguir ocultar a Treva... Que é sua verdadeira natureza, sua real substância!!

E os viventes do Reinos das Sombras seguem cegos e ignorantes do que sucede em seu derredor. Desconhecendo a horrenda batalha entre Treva e Luz que ocorre na periferia do seu parvo existir. Assim prosseguem, ignorantes de suas prisões.
Em sua suprema angústia, a Luz convulsiona; buscando resistir a ser devorada pela trevosidade circundante. Logrará - a Luz - passar incólume às investidas da Treva Eterna?

E, na contenda entre Luz e Treva, surge o Tédio. Deformando a Existência, consumindo a Essência.
Reduzindo tudo a Nada. Talvez a menos que isso...
E todos seguem em suas aflições, dilacerados em julgamentos vãos; a Luz corroendo a tudo, permanecendo ignorante de sua própria Escuridão. Em meio a tudo, ansiando pela autoextinção...

E, consumidos em suas incertezas, os viventes no Reino das Sombras enganam-se com o próximo cigarro, o trago seguinte; o gole dado com sofreguidão no Néctar do Esquecimento. Almejando reinventarem-se um sua busca angustiosa...
Mas a Luz irrompe novamente, rasgando a Treva e tudo quanto existe no Reino das Sombras sofre sua agressão. Tudo queima, todos ardem. E a Treva convulsiona.

A vida polula por todos os rincões do Reino das Sombras. Diminuta, mas nem por isso menos significante...
Formas de Treva e Escuridão, Vazio e Nulidade movem-se em meio a Luz. Entes de consciência embotada amontoam-se nas frestas e frisos. E por todo lado a Vida vareja e agoniza, arrancada de seu útero escuro.

A Luz rasga tudo. As cores desvelam-se em sua pálida profusão. Então a ilusão de Vida extrusa das Trevas; e os combalidos habitantes do Reino das Sombras, por uma primeira vez em milênios, ousam crer em Esperança. Esquecendo ser ela prisioneira de, Pandora e sua fatídica caixa: maldição de Deuses arcaicos, ciumentos e mesquinhos, que por húbrys, apartaram-se para outros rincões do Cosmo.

A Luz (e seu agudo punhal) rasgam as carnes daqueles que vivem em plena Escuridão do Reino das Sombras...
Corta fundo, revelando vísceras, ossos, músculos.
A dor lembrando-os ainda estarem vivos. E sempre, e mais uma vez, os corpos desfazem-se em um jorro líquido rubro, pastoso e agridoce; levando os viventes aos estertores... Ao hálito derradeiro, ao limite da existência.

E tudo fende, rompe, sangra e morre...

E novas formas brotam da Escuridão, repopulando o devastado Reino das Sombras...

Mas a Luz não rende-se. E volta a expandir, queimando e destruindo tudo a que toca. Rasgando o reconfortante véu da ilusão costumeira. Destecendo realidades pré-manufaturadas, desfazendo toda segura noção de certeza.
E tudo no Reino das Sombras geme, agoniza; buscando fugir da Luz para o conforto da Treva, terna, fria, macia, acolhedora. Como um cadáver que busca retornar ao obscuro ventre da Terra...

E um novo ciclo tem início, contendas de batalhas até a chegada do Não-Tempo do Fim de Todas as Coisas.

*frankj costa*

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