A madrugada estava alta. Mais alto ainda estava eu: duas garrafas de gin, uma de vinho; até a meia garrafa de malte escocês (esquecida por alguém no último réveillon) entrou na ciranda.
Com minha última dose de malte - servida chorosa e abundantemente - sentei à janela com um cigarro acesso e a mente fervilhando; pensamentos desconexos em recordações fragmentárias.
Uma memória ignota que teima em recontar de si para si a própria história: editada, revista e revisada, a cada novo ocaso.
O vento alisa meu rosto como tépidas mãos desprovidas de quaisquer anseios. Ao longe ouço o ribombar dum trovão; embora eu não houvesse visto o seu relâmpago... Pouco depois uma fina e gélida chuva começa a entrar pela janela, completando meu copo de malte, me deixando de corpo lavado, mente embotada; imersa em plena solidão.
Apaga-se o encharcado cigarro, que esquecido pendia em minha mão. Do outro lado da rua, o vento traz-me uma canção...
Com minha última dose de malte - servida chorosa e abundantemente - sentei à janela com um cigarro acesso e a mente fervilhando; pensamentos desconexos em recordações fragmentárias.
Uma memória ignota que teima em recontar de si para si a própria história: editada, revista e revisada, a cada novo ocaso.
O vento alisa meu rosto como tépidas mãos desprovidas de quaisquer anseios. Ao longe ouço o ribombar dum trovão; embora eu não houvesse visto o seu relâmpago... Pouco depois uma fina e gélida chuva começa a entrar pela janela, completando meu copo de malte, me deixando de corpo lavado, mente embotada; imersa em plena solidão.
Apaga-se o encharcado cigarro, que esquecido pendia em minha mão. Do outro lado da rua, o vento traz-me uma canção...
“...
Now you say you’re sorry,
For bein’ so untrue
Well, you can cry me a river,
cry me a river
I cried a river over you
...
”
E a música derruba minhas muralhas, abre a represa de minha’lma e vejo-me impotente, chorando sob a chuva fria, à janela de uma casa vazia e gélida. Pondo-me de pé, me debruço sobre o parapeito, meus olhos mergulhando no rio de luzes dos carros passantes na via expressa; metros abaixo.
No armário do banheiro ainda resta um vidro de MAPEZAIDO (do tempo em que vivias comigo). Deito uns comprimidos dentro do copo, olho-os enquanto se desmancham no malte – agora completado com chuva e bourbon -, emprestando uma coloração banco-leitosa ao rubor da bebida e uma textura arenosa ao seu sabor.
No horizonte vejo o sol surgindo por entre as nuvens; o céu vermelho-alaranjado, como a bebida em minhas mãos.
A chuva arrefece e sinto o cheiro da manhã invadir a casa, me invadindo junto.
Sinto as pálpebras pesando a cada gole dado em meu Bourbon. Some minha percepção de mim, assim como some o sol do horizonte no cerrar pétreo de meus olhos.
No armário do banheiro ainda resta um vidro de MAPEZAIDO (do tempo em que vivias comigo). Deito uns comprimidos dentro do copo, olho-os enquanto se desmancham no malte – agora completado com chuva e bourbon -, emprestando uma coloração banco-leitosa ao rubor da bebida e uma textura arenosa ao seu sabor.
No horizonte vejo o sol surgindo por entre as nuvens; o céu vermelho-alaranjado, como a bebida em minhas mãos.
A chuva arrefece e sinto o cheiro da manhã invadir a casa, me invadindo junto.
Sinto as pálpebras pesando a cada gole dado em meu Bourbon. Some minha percepção de mim, assim como some o sol do horizonte no cerrar pétreo de meus olhos.