4 de novembro, 23:35:>
Publica numa rede social de amplo alcance, uma mensagem (mascarada de "desabafo"):“¡Quanto è difficile essere me!”
Quanto tempo terá refletido sobre suas reais dificuldades?
Quanto tempo ainda levará pra aceitar que ele próprio é o principal agente/causador das coisas que lhe afligem?
Sim. Existem coisas que o atingem partidas de outras pessoas... Mas quem opta por baixar a guarda?
Sim. Existem eventos que lhe fogem ao controle... Mas quem opta por hipervaloriza-los?
Este jovem homossexual está com receio (talvez?): receio de abandonar sua confortável zona segura de lamentações irrefletidas, onde apenas há o inerte penalizar-se.
O contínuo e improfícuo autoapiedar-se, oxalá na vaga e amorfa possibilidade que terceiros lhe dêem conselhos, sugestões; alguns mesmo, haverão, que lhe oferecerão psicotrópicas distrações; ilusões psicoativas mas de parvalhona duração.
Quiçá embotará a própria mente e a percepção de si com estímulos fugazes, milifólios miríades de luzes, som e fúria!
Sempre jogando para outra pessoa a responsabilidade (ingrata de todo) da própria felicidade.
Tal jovem não alicerça a felicidade em si mesmo; sempre no movediço terreno da relação, sempre escravizando-se às próprias expectativas sobre o outro e às de outrem sobre si.
Parece querer fazer o exato inverso do Carvalho, e -ao invés de brotar da semente e erguer-se majestoso aos céus; quer arrancar-se (a si próprio) da amplitude magnificente do céu para trancar-se novamente na semente...
Ao longe, ouve-se um Moucho guinchando.
5 de novembro, 03:35:>
Acorda com a boca seca, os olhos semicolados pela secreção excrescente... Abre um olho turvo-quase-cego, arrasta-se pesadamente para fora da cama, tateia a mesa tropegamente, encontra o vidro de comprimidos: "enavomi" ele mal consegue ler o rótulo.Com inegável esforço abre o vidro, deita duas cápsulas na palma da mão, rompe as drágeas depositando seu pó de cor ocre num copo, enchendo-o à metade de seu bourbon favorito. Dissolve tudo com o dedo e toma de um único gole.
Como se de chumbo fossem suas pernas, ele cambaleia de volta ao leito; deixa-se afundar no colchão.
10 de novembro, 18:45:>
O telejornal do lusco-fusco, repete a notícia dada no plantão de meio-dia:"Jovem homoafetivo encontrado morto na própria casa. Polícia suspeita de suicídio"
E, assim, morre sem nunca ter vivido, tornando-se poeira e estatística.
http://png-free.blogspot.com.br |
Nenhum comentário:
Postar um comentário